quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Kacetada


C-utter : Urban Hermits ; Eten : Kaseten (Afeite al perro; 2009)

v/a : Psychiatric Underground, vol.1 (Emerson Cake and Asshole; 2007)
A Cassete ou k7 voltou! Para dizer a verdade também nunca desapareceu mas nos últimos anos têm-se assitido mesmo a uma insistência no formato para editar música "underground". Não sei se é apenas nostalgia, ou se inclui algum fetiche pelo formato do objecto - ou pelo formato editorial do mesmo - mas elas andam aí, ainda recentemente até vi uma versão em K7 de um CD de uma banda portuguesa de Death editado de forma profissional. Pessoalmente tenho reencontrado o "mundo da k7" para fazer algumas misturas para amigos - e nunca deixei de ouvir as minhas k7's antigas ao longo destes anos todos.
Há coisas que a k7 tem vantagens em relação aos outros formatos, uma delas é que é uma tecnologia barata que permite gravar e desgravar como quisermos. Tem um lado A e B como o vinil o que lhe assegura um ritual de audição obrigatório ao contrário dos 80m de CD que nos tornam insensíveis à sua audição passado um pouco - aliás, se está provado que o ser humano só consegue estar concentrado 20 minutos imaginem o que isso significa com um CD de 80m? Bom vamos às fitas:
A melhor coisa da K7 de C-utter é mesmo o desenho do tipo Afeite al Perro da capa / embalagem, um desenho orgiático e violento para pensarmos que iremos ouvir algo de especial. Provavelmente os espanhóis devem estar a descobrir a Electrónica agora para acharem isto especial porque o quer temos é o que já ouvimos em Coil e Jarboe há muito tempo. Os Eten são um duo basco, bateria e guitarra, com uma capacidade para dar ainda uma boca no microfone ou no trompete - são de Espanha, certo? Ok, ok... não vou ser mau, o trompete até o que safa a coisa, como podem imaginar é mais um "dinamic duo" que anda pelos terrenos sónicos tal como outras mil bandas, e é graças ao trompete que consegue-se entrar noutras texturas e dramas sonoros menos óbvios. O lado "jendaurrean" é ao vivo - gravado em Maio 2006 - e mais energético, o lado "jendatzean" foi gravado em Janeiro 2009 sem ser "ao vivo" (com público), é o lado calmo e o que prefiro porque ao menos não berram nada em Basco. Nada de brilhante mas também nada de humilhante.
As k7's do Afeite geralmente são pintadas a spray ficando opacas e dificil de controlar de que lado da k7 estamos a ouvir - não convém perder a ordem! A k7 de C-utter é embrulhada numa folha A5 com o bendito desenho, a de Eten é mais vulgar com um desenho psico-geométrico mas é giro sem sombra de dúvida.
Tal como vão longe os tempos em que Espanha só tinha bandas de merda - embora o País Basco fosse sempre a excepção! - mais longe vão os tempos em que o Rock era proíbido na Rússia ao ponto das bandas ensaiarem em quartos de hotel visto que não podia estar numa garagem como no "mundo livre". A Rússia está em modo "zeitgeist" que temos aqui uma k7 de Noise, para a dizer a verdade este Psychiatric Underground é uma compilação de nove k7's com bandas tão carismáticas como Апелюски Уста, Братья Шимпанзе, Итька Йоц, Казлетон, Карман Кузнечиков, Мистер Жмурь и Пастор Шняга ou ainda Ухогорлонойз. Tenho a k7 da primeira banda, que me tinham dito que era "Shitcore" e após algumas horas de investigação sobre o género na 'net lá descobri o que poderá ser Shitcore e bom... é Punk ou qualquer género agressivo mal-gravado, com letras imbecis e escatológicas (estas são em russo por isso fiquei pouco ofendido, infelizmente), usando equipamento electrónico estragado ou antigo, ou seja, imaginem Grindcore antigo ou moderno a sofrer de mongolismo avançado... Díficil de ouvir como ver o "Beavis & Butthead" 24 horas de seguida, e daí... Mas espera aí!? É Noise ou Shitcore?

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Bordados em Crack

Eis um bizarro artefacto urbano criado no Crack 2009, com as participações em regime de cadáver-esquisito de Aleksandar Zograf, Nina Bunjevac, Vladimir Palibrk, Anna Ehrlemark e Franco Sachetti - alguns dos autores que estão na antologia Crack On - eu acho que fiz os dentes mas já não me lembro! Fizemos durante a tarde de sexta-feira (creio) a lápis no tecido que Gordana Basta bordou mais tarde.
Já agora recordo que já há poucos exemplares do livro e que a distribuição foi ainda mais limitada que o normal. Se estiver interessado só pode ir aqui.

domingo, 27 de setembro de 2009

Destruição em Cascais

A Chili Com Carne prepara uma nova antologia de banda desenhada para lançar ainda este ano - a ideia foi apresentada ontem, no Jardim Visconde da Luz em Cascais, no meio do caos das actuações de VRBLS e Feedback My Homeboy - concertos que decorreram pelas 18h. Desde as 16h, a CCC esteve no Jardim com as suas edições e dos seus associados (Bela Trampa, El Pep, Hülülülü, Imprensa Canalha, MMMNNNRRRG, Opuntia Books) para mostrar trabalho feito e explicar de forma pessoal o que se pretende desta nova antologia.



E foi "destroy"! No meio de uma feira de Eco-biológico da treta - pouca ecologia muito artesanato urbano vulgar - conseguimos as gentes de bem em Cascais contra nós, tendo até alguns chamado a polícia para investigar o ruído que se tocava no jardim Visconde da Luz. Como tudo foi feito nas maiores das legalidades, com todas as licenças exigidas, as tias tiveram de engolir. Assim conseguimos um público de gente estranha que nunca pode ver coisas estranhas numa vila dedicada ao turismo e cultura "clean". O começo desta sessão de fotos de tlm deste "post" começou por causa de um casal em euforia de narcisismo. Ele começou a tirar fotos da namorada em posições "sexy do calendário da oficina" com os VRBLS por detrás. Estranho? Mais virá...



Os Feedback my Homeboy em acção, pedais e distorção!



o seu público incluia os muito respeitáveis homens do lixo, o poeta Dionísio, uma velhota "freak-chic" que adorou as duas actuações (um concelho não pode viver só de Pimba e Rego), o Vice-Presidente Martins (da CCC! posto desta forma poderia ser da Junta de Freguesia bem sabemos), a Vogal Borges, um elemento dos The Sound of the Typewriters e...



um puto tótó mas com uma impressionante t-shirt dos Motorhead! Desconfiamos que ele não conheça os Motorhead nem que o possamos considerar público porque ele estava sempre a passar de bicla à frente da banda e em círculos pelo jardim...



eis uma foto com parte da Feira, da nossa banca e do Dionísio, um pai e filha (ela está escondida por detrás dele nesta foto) que se interessavam por bd e zines:



Os VRBLS em acção - ah! é verdade, os concertos como já repararam não foram acústicos, afinal, se o conceito é "Destruição" tinha de ser eléctrico, certo?



O público inclui uma bifa trintona, uma família montada em bicicletas, alguns junkies e uns betos que começaram à estalada. Cascais é demais!!! De certa forma, para mim, senti que tinha sido um regresso (com 10 anos de distância) a isto.



Resta dizer que apesar de esta acção de divulgação da Destruição ter sido pouco produtiva, já começaram a aparecer autores interessados na antologia, a saber: José Smith, Silas, Afonso Ferreira (com Nuno Saraiva?), André Coelho (com David Soares?),... esperamos pelos trabalhos!!!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Danke... Neurotitan

 

Pelos vistos é mais fácil ter destaque em Berlim, na excelente loja / galeria Neurotitan, do que em Portugal... Até livros em português são aceites!

Porno Tapados


Paloma Blanco fez a revista mais divertida dos últimos tempos! Pegou nas Ginas e Tânias de Espanha (revistas pornográficas para quem é da geração cyber-porno) e pintou por cima das gajas a exibir a genitalia ou dos gajos e das gajas no "malhanço". Assim, colocou a tipa em orgasmo total a estufar um frango (escrevo sem qualquer tipo de trocadilho ordinário, a sério!), o garanhão a lavar pratos, a sequência de duas lésbicas a tocarem instrumentos (vá lá, vá lá, vamos lá parar com essas piadolas! instrumentos musicais!), o "menâge-a-trois" numa séria sessão de leitura de livros, ou ainda um fornicanço foi transformado num senhor que fuma com ar muito inocente. Porno Tapados (Belleza Infinita; 2009) já vai na segunda edição, e chega a Portugal via Chili Com Carne (com carne? cheira a porno-chachada!). Se a Arte nos dias de hoje cansa de tão pouco divertida, tinha de haver alguém com ideias fixes. It's a dirty job,... oh não, querem piadas com "job", não é?

sábado, 19 de setembro de 2009

Humor(r)es


As edições Humeurs tem um catálogo de "humor negro" em que tanto podemos encontrar novos autores como velhos. Este ano a Chili Com Carne fez trocas com o seu editor Sylvain Gerand (ele próprio autor versátil já publicado em Portugal pela Opuntia Books) em que nos chegou o material mais visual e a inevitável antologia L'Horreur est Humaine.
...
O que tem Poupées de Papier (2006) de Medi Holtrop e Appétit (ed. aumentada, 2004) de Willem em comum? 
Apenas uma coisa, os autores são mulher e marido, ambos pertencentes à geração Provo, consequentemente à do Maio de 68, e à loucura editorial das revistas Hara-Kiri e Charlie. Depois disso, cada um tem a sua voz: no caso dela, o trabalho dela tem um valor narcisista quase a roçar o freak, onde a autora norueguesa se representa sem pudor - muitas vezes nua - com orgulho no seu corpo velho, rodeada de obcessões fálicas, maternais (a lembrar Paula Rego) e mutações corporais. A dedicatória no livro a Topor não é inocente, porque se nota influências temáticas - influências ou zeitgeist? Willem é um ícone do humor gráfico europeu - até já foi publicado em Portugal embora suspeito que foi sem querer e claro, foi ignorado pela crítica e pelo público. O trabalho deste holandês é profundamente político, social e sexual. Quase que diria que é o avô dos Bazoukas, Dernier Cri e afins... Com dúvidas? É só espreitar este ARREPIANTE livro A6!
...
Por fim, o tijolo L'Horreur est humaine #1 (2008) é uma segunda série já longe do formato mutante de zine que existiu no príncipio do milénio. E se nessa altura fotocopiada o "L'HeH" já esticava os limites do "fanzine médio" (um dos números tinha 400 e tal páginas!), a nova série é capa dura, livro cosido, uma fita-marcador, páginas a cores e todo o tratamento de luxo para ser uma antologia de referência - aliás, é de visitar o Ler BD para saber mais e de forma isenta.

descontos de 20% para sócios da CCC

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Nazi Knife #4, 5

Jonas Delaborde; 200_?

Da fotocópia à antologia impressa (livro) parece ser este o caminho cada vez mais normal de algumas publicações como o caso do Nazi Knife que é um zine francês mas que reúne todos os "gráficos Noise" do planeta - e a analogia não é tosca porque muitos tocam em bandas Noise: John Olson e Alivia Zivich (Graveyards), C.F., James Ferraro e Spencer Clark (Skaters), Heath Moerland (Sick Llama), Andy Bolus (Evil Moisture), Nate Young (Demons), Dom Fernow (Prurient), Mat Brinkman, os polémicos Mike Diana e Stu Mead, Leif Goldberg... Fazendo deste zine uma "bíblia" de todo o movimento "undergráfico" e essêncial para quem gosta de desenho.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

A Norte tudo de novo...


Como já tinha referido aqui, a autora alemã Anke Feuchtenberger criou com o seu marido Stefano Ricci uma editora, a Mami, onde têm publicado trabalhos seus e também de alunos da Faculdade de Hamburgo onde Anke ministra um curso de ilustração e bd. Sem grande informação na Internet - e sem tempo para grandes discursos - escrevo apenas que chegaram Ich weiß de Birgit Weyhe e CandieColouredClown de Jul Gordon, belas edições: boas encadernações, boa escolha de papel e trabalhos de bd com impacto à primeira vista. O problema é que é preciso saber alemão para poder apreciar a primeira e 50% da segunda (algumas bd's estão em inglês)...


S! (com uma "coisa-acento" no "s") é uma mini-revista que era o Kus (que também tinha algo no "s"), novo conceito para tempos de crise, ou seja, reduziu-se para um formato A5 super-simpático completamente a cores onde convivem autores nacionais (continuando a Anete Melece a ser a autora mais interessante) e estrangeiros como Emilie Östergren (Suécia), Henning Wagenbreth (Alemanha - alguém se lembra do Salão Lisboa 2003?), Bendik Kaltenborn (Noruega) ou Nicolene Louw (África do Sul)... Sairam dois números entre Outubro 2008 e Fevereiro 2009.



Passados 10 números e 12 anos de actividade editorial, Tommi Musturi - um dos muitos autores de bd da Finlândia com talento e voz própria - cansou-se de editar o Glömp, projecto que começou como zine e passou a antologia. Como explicou quando esteve , para se despedir do projecto tinha de fazer algo de especial daí que GlömpX (Huuda Huuda; 2009) seja um livro saudávelmente pretensioso, querendo ser um marco na história das antologias de bd - o editorial do livro não deixa dúvidas em relação a isso fazendo um breve resumo dessa história. Apresenta-se em capa dura, todo a cores, com um CD banda sonora (Fricara Pacchu, Amon Düde & The Hoppo, Kiiskinen e Nuslux), e sobretudo e o que importa, um conceito de querer publicar e expor "narrativas em três dimensões". Ou seja, fugindo do tradicional "lápis + caneta sobre papel" (embora também haja situações dessas em alguns trabalhos), criaram-se bd's plasticamente diferentes do tradicional. Por exemplo, Hanneriina Moisseinen fez uma bd em bordados. Na exposição é preciso entrar numa tenda para poder ler a dita cuja - como poderam ver os que visiram a exposição que esteve patente na Bedeteca de Lisboa. Katri Sipiläinen criou um ambiente-escultura com alguns bonecos, esse ambiente fotografado tem uma carga cinematográfica e dramática fortíssima depois de composto em páginas de bd. Outras bd's são interactivas como a de Roope Eronen cujas tiras de bd podem ser lidas de formas diferentes com um sistema rotativo de paralelepipedos numa caixa - no livro, o autor (e o editor) oferece a hipótese (remota) de destruirmos o livro para recriarmos esses paralelepidos. Talvez nem tudo o que é apresentado na exposição seja competente - claro que não poderia ser - mas comparando com um projecto idêntico do passado, o Zalão de Danda Besenhada, os finlandeses sobretudo não se esqueceram de uma coisa, a bd no final é sempre transmitida via livro ou papel. E é aqui que não há falhas, o GlömpX merece um glorioso epitáfio na História da BD.

le best of Dernier Cri

Claro que o título deste "post" é uma parvoíce imensa por várias razões mas a principal é porque o colectivo de Marsenha produz tanto que qualquer tentativa de listagem seria fútil a não ser que eu fosse um cromo das listas... mas temos alguma palavra em relação a uma série de edições (acessíveis no site da Chili Com Carne) que são de tirar o fólego!


Acid Arena (2008) de Dave 2000 deve ser o único livro de 3D em que me senti bem em ser idiota - tentei pegar / tocar as imagens que como toda a gete sabe não passa de uma ilusão óptica feita das separações do veremelho e azul. E também - e uma vez que não jogo seja o que for (cartas, jogos de computador,...) - não me sinto mal em estar viciado num jogo de computador super-parvo...
Antes disso, é de referir que com este título as confusões continuam: o livro é Acid Arena e o jogo de computador que o acompanha também se chama isso com o sub-título Monster Blast?
Não sabe / Não responde.
Só posso dizer que temos um dos livros do LDC mais alucinantes de sempre. O autor Dave 2000 é uma espécie de Fredox do digital, com todo o mau gosto implícito - não da escatologia mas sim dos truques do mundo digital, ou seja, excesso de imagens perfeitinhas e cheias de degradés e cores pirosas. Claro que depois lixa a coisa toda com a habitual fórmula "vexo & siolência" mas ainda assim o sabor do plástico está sempre lá. Mas desta vez usando a técnica do 3D os desenhos ganham outra dimensão (que piada!) de tal forma que ficamos mesmo sujeitos a imergir numa... realidade virtual (!) de mutantes excitados por pornografia barata, genitais a derreter pixels e insectos esótericos para o século XXI. Um terror que se quer mexer para saber se é verdade. Errado!!! Como se costuma dizer para ver não é preciso mexer!!! E se aquilo fosse real de certeza que se apanhava uma valente gonorreia cibernética.
O jogo de computador ainda é pior (ou melhor para quem quiser). A lógica é toda ela "Quake": andar a matar malta mutante ou ser morto - sendo também o jogador um mutante. Há mutantes vestidos de latas de cerveja e de outras formas fantásticas e xungas a darem tiros de arma lazer, caçadeira, mega-lazer... É preciso gerir vidas e munição, o normal, excepto que aqui a dimensão pós-apocalíptica já está a niveis muito elevados de degeneração estética e moral. Literalmente é matar ou ser morto, tudo é rápido e quase nada faz sentido. Ultra-violência para queimados, sem dúvida, em especial num cenário, o "Plasma Freak", em que não há ponta por onde se pegue - literalmente!! Um tipo anda por lá a baloiçar (aos tiros, claro) de parede multicolor em parede multicolor. E claro morre antes de qualquer hipotese do pesadelo LSD ser passivel de ser assimilado.
O livro tem capa em serigrafia, o interior é impresso e é acompnahdo por óculos 3D. O jogo vem num CD e só dá para PC. Mais do que isto não posso ajudar.

O prometido "snif" ao "Japão paranóico" é por Shitknobs unideth (2008) de Miruki Tusko. Na realidade há um livro chamado Japon Parano (2008) que junta Daisuke Ichiba, Norihiro Sekitani, Takashinemoto, Ayano e Daisuke Tamano mas se o LDC pode confundir-nos porque não poderei fazer o mesmo?
E na verdade o autor nem se quer é japonês - é um belga... Disfarça bem, não fosse uma série de tiques da nova geração "graphzine" europeia, onde podemos incluir o LDC ou os Opuntia Books: degeneração das figuras Pop, criações de espaços abstractos, desenhos descontrolados como se fossem de criança, fascínio pelo Heavy Metal extremista...
O Tusko, o que tem mais de piada é o uso de bonecada tosca com pinta oriental (não a bonecada óbvia tipo Manga!) que borra com cores pesadas e ajudadas com a impressão em serigrafia. O livro todo ele é serigrafado, diga-se. Como dizia, engana bem, podia passar por oriental... mas falta-lhe o Extremo Oriente!

ITO (2008) de Yann Taille é um livro que só podia ser feito depois do M.C. Escher e do Codex Seraphinianus... ou ainda, depois de Jim Woodring. Tudo a que temos acesso é "alien": o texto (uma linguagem encriptada?), as máquinas, os cenários, as formas de vida, o sistema...
Só há uma certeza, porque não é muito diferente da nossa vida terrestre: nascer, trabalhar, reproduzir e morrer... ou nascer, escola, trabalho, morte... Taille coloca as suas criaturas nesta direcção, ou na falta dela, porque as suas vidas são verdadeiros "loops" infinitos num sistema fechado e repressivo.
Capa em serigrafia. Belo livro!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Windigo

José Lopes
Doczine vol.2; 2006

A bd portuguesa é mesmo um oceano cheio de ilhas e ilhotas perdidas. Sem mercado os autores fazem os que lhe apetece porque nada têm a perder ou a provar. Acho que o único ponto negativo é quando os autores são bons nunca chegam a ser publicados em formatos profissionais para que pelo menos daqui alguns anos alguém possa dizer que o que se publicava de bd em Portugal não era só mediocridade estéril. Felizmente até tem havido livros para gente talentosa como a Ana Cortesão, Nunsky e Janus, ambos com trabalhos fabulosos mas pessoalmente incapazes de promoverem o seu trabalho. A juntar a esta lista temos o José Lopes - que por acaso o ano passado finalmente também foi publicado em livro - uma antologia, "4 Salas, 4 Filmes" pela Bonecos Rebeldes.
Foi na Feira Laica deste ano que apanhei a um euro este fabuloso zine seu - sim, a um euro! Acredito que ideia seja despachar exemplares de um título antigo mas ainda assim é um presente ao mundo esta bd de quase 70 páginas, em formato "comic-book". A estória é uma auto-ficção tendo como protagonista (a figura) do próprio autor num aparente relato quotidiano que acaba numa situação de "serial-killer" (asteca!). A narrativa e "découpage" lembram David Lapham (Stray Bullets), melhor elogio não poderia ser feito porque o trabalho é muito bem feito.

Brasil VI

Continua a senda por uma bd brasileira mais artística e menos "besteirol". A última tentativa chama-se Prego que contem "Quadrinhos, Arte Punk e Psicodelia"... menos mal para começar e nada mal depois de ler o zine.
Mantêm a "Alma Sacana" do zine brasileiro e da tradição safada da saudosa Animal (até recuperam o Jaca!!!) e Chiclete com Banana (referências imortais) mas estão no Espírito do Tempo com as suas  bd's porcas e mal-criadas e desenhos loucos espalhados pelo Design Punk (eles chamam Diagramação no Brasil!). Gostei especialmente da bd "brut" de Guido Imbroisi (no #2) e as colagens de Alex Vieira (cabeça do projecto) e Mário de Alencar - comparações a Max Ernst são inevitáveis porque ele foi o primeirão! 
Só as entrevistas é que são um bocado secantes mas deve ser o único ponto negativo deste projecto que desde do Outono de 2007 lançou cá para fora três números, onde se assiste a evoluções e crescimento - tanto que agora até já edita "flipbooks" e um "comic", Gente Feia na TV - este último tem um grafismo e ideias tão coladas ao Peter Bagge (e não só) que não me apetece bater no ceguinho.

à venda no site da CCC

We don't need no education...


Orang #6/7 (Reprodukt; 2006-08) é uma revista que foi criada por alunos do curso de bd/ilustração de Hamburgo. Agora que os alunos já saíram da vida escolar a revista não só se manteve como se posicionou para completar o triângulo das melhores revistas europeias de bd da actualidade - falo da Glömp (Finlândia) e da Canicola (Itália) - não sendo coincidência que artistas de uma revista são publicados nas outras duas. Pela Orang podemos encontrar Chi Hoi (de Hong Kong e que no ano passado a Canicola editou um livro seu), Moki (bonecada fofa), Tommi Musturi e as aventuras do seu Samuel (já editado do Mesinha #200 e com livro a sair este mês pela MMMNNNRRRG), Klass Neumann (com um jogo "oubapoano"), Till Thomas (já publicado em Portugal na Crica) ou do italiano Stefano Ricci (cada vez mais impressionante e que curiosamente vive em Hamburgo, onde também dá aulas)... A revista tem um formato quase quadrado e anda à volta das cento e tal páginas, algumas a preto e branco outras a cores. A política geral da revista deve ser uma espécie de "neu sturm und drang" tal é o urbano-depressivo irracional que emana nas suas páginas. O último número por exemplo tem como tema "The end of the world" (sim a revista apesar de estar em alemão usa o sistema de tradução para inglês no final da página)... um bocado tarde para "finais do mundo", não? A não ser que a paranóia de 2012 (ou é 2016?) esteja a atacar mais do que pensava...


Two Fast Colours #2 (M. Krause & M. Lenzin; Jul'08) é um zine A4 editado por duas estudantes do curso de bd da universidade de Hamburgo - uma turma posterior à Orang. Os trabalhos são ansiosos de provarem qualquer coisa, mesmo quando suspeito que possam ser exercícios do curso de bd como o da Martina Lenzin que explora o potencial meta-narrativo idêntico ao que Chris Ware mostrou em Quimby, the mouse mas ainda assim com um humor próprio. A publicação junta ainda alguns franceses como Quentin Vijoux, Morgan Navarro (provavelmente o autor mais excitante do catálogo Les Requins Marteaux) e Guillaumit. De recorte surrealista e pós-Pop eis um zine em que se sente frescura e que os estudantes alemães de bd sabem se mexer - ao contrário do que se passa em Portugal. Ah! Destaco a Jul que quase roça graficamente o Mike Diana embora o universo não seja o mesmo. A capa em serigrafia faz jus ao título do zine.

E no meio do turbilhão desta nova geração alemã de bd encontramos uma sempre renovada Anke Feutchtenberger cujo trabalho per se já está no patamar dos grandes artistas de bd mais influentes dos últimos 25 anos como Gary Panter, Charles Burns e Blanquet. Se soubermos que é professora no curso de bd e ilustração da Universidade de Hamburgo mais fácil será reparar que a sua influência não é apenas indirecta. Mais que uma autora influente se calhar também poderá ser uma professora influente e uma passagem de olhos pelas três revistas referidas acima percebe-se a sua marca na forma e no conteúdo, sobretudo nas novas autoras - que o diga Amanda Vähämäki portadora de uma voz muito segura mas que deve a Anke a inseminação estética. Cada vez mais virada para o desenho, recentemente cruzei-me com o livro wehwehwehsupertraene.de / lacrimella.de editado pela Mami (2008), que é a sua editora e do seu companheiro Ricci. Trata-se de um belo livro de desenhos de Anke feitos entre 2006 e 2008 e expostos na Galeria d406 (onde recentemente a Canicola fez uma exposição "vista" no seu "derradeiro número"). Assistimos a uma autora cada vez mais virtuosa no desenho a grafite e madura em que tenho a certeza que continuará a surpreender nos próximos anos.

E por falar em alunos e a iniciativa privada, em Angoulême vai-se criando um "cluster" de editoras de bd, algumas explorando o talento que sai do curso de bd como o caso da recentemente criada Scutella mas a maior parte são colectivos criados pelos alunos como a conceituada Ego Comme X ou a recente NA que lançou o jornal Modern Spleen. O jornal claramente inspirado no finlandês Kuti publica autores "dos quatro cantos" encontrando-se finlandeses, alemães (curiosamente alguns da Orang e Two Fast Colour) e a portuguesa Joana Figueiredo - e ainda de autores da Itália, EUA, França e Hong Kong. Claro que é mais fácil "fazer coisas" num país que tenha um mercado de bd como a França mas o que questiono é como ainda não saiu um zine que seja dos três grandes cursos de bd portugueses que existem?

domingo, 13 de setembro de 2009

still spx stockholm...


Depois de alguns meses eis que descubro que o Christian da Reprodukt apanhou-me outra vez em fotografia, pelo menos desta vez não estou com ar de Domingo de manhã como da outra vez. Foi na SPX de Estocolmo e por acaso também era Domingo mas como não se curte em Estocolmo estou com um aspecto energético! + fotos e reportagem alemã aquiDankes very muchas!

sábado, 12 de setembro de 2009

Iron Man... mas versão Butthole Surfers!


A malta anda toda mamada, é só doidos por todo o lado... como é o caso deste francês J.M. Bertoyas que já fez livros pela L'Association e pelo Le Dernier Cri, o que não lhe impede de manter uma actividade DIY tão cheia de energia que até isso passa pelas cartas que envia. A que recebia teve um efeito inacreditável em mim - afinal já não recebo cartas de chalados como acontecia antes do advento E-Mail. Seja a fazer bd - Men in Blue (ed. de autor; 2009) - ou desenho - Derch (Le Dernier Cri; 2007) - as qualidades de Bertoyas passam pela estética iconoclasta underground e o sem-sentido degenerativo que nos faz perder em referências culturais várias mas que nunca nos deixam outra opção a não ser o desnorte narrativo. É mais para ver do que ler dirão, não digo o contrário, embora seja divertido de ler e de ver. Suspeito que o autor deve ser um hiperactivo que não pára de criar 24h sobre 24h, no Festival de Angoulême deste ano a única exposição que se aproveitava era numa casa particular cheia de desenhos por todo lado - era a exposição do Bertoyas... yup, man! Salut, pá!

Tesão de Anão!

Após ter participado no primeiro volume da antologia Antibothis, o norte-americano
Vadge Moore está de regresso com um livro novo em nome próprio na colecção Thiscovery CCChannel, intitulado Chthonic : Prose & Theory.

Membro fundador da conhecida banda de Garage Punk The Dwarves, nos anos 80/90, que editou vários álbuns para a Sub Pop. Nos ultimos anos tem trabalhado numa vertente mais Industrial ruidosa como Chthonic Force, com colaborações de destaque tais como Monte Cazazza, Neither/ Neither World, The Electric Hellfire Club e Boyd Rice, tendo este último considerado Moore como one of American counterculture's most notorious debauchees, comes a tome devoted to all the base, depraved, wicked and vile aspects of the animal Man.

Co-edição Chili Com Carne e Thisco
Capa André Lemos, design João Cunha
ISBN: 978-989-95447-5-8

Ah, to be "young" again - full of hatred, nihilism and superiority. V. Vale (Re/Search)

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Intercâmbios

Na Aldeia Global é cada vez mais normal aparecer projectos de bd em que haja uma troca de experiências entre autores de países e/ou de culturas diferentes. Desde que o Joe Sacco colocou em voga a hipótese de se visitar um país e dali criar conteúdo dessa experiência em bd, a ideia estalou por vários lados, não faltando várias editoras comerciais a levar autores franceses ao Japão para fazerem reportagens e afins. Seja pela Internet ou pelos vôos "low-cost" o mundo diminui a olhos vistos e por isso quase que deixou de ser exótico fazer livros em que se juntam suecos com italianos ou algo parecido. Esta Aldeia só encontrará uma Vila ou uma Cidade ou um País se realmente houver vida inteligente fora da Terra.  Por enquanto a Aldeia ainda tem uma existência interessante porque apesar das barreiras nacionais terem ido à vida, ainda habitam indíviduos diferentes - com mais ou menos talento para esta ou aquela função - e isso ainda permite julgar os projectos para além da lógica nacional-exótica. Eis três projectos que recentemente tive acesso:


10x / Dix Fois /Kymmenen Kertaa (Premières Lignes; 2008) por Christian Quesnel e Terhi Ekebom (ed)

Apresentado na 23ª edição do Festival de BD de Helsínquia, este livro compila cinco autores do Canadá e cinco da Finlândia sendo que estes últimos - Terhi Ekebom, Pauliina Mäkelä, Amanda Vähämäki e Mikko Väyrynen (o único homem do grupo) - ganham versus os quebequenses Caroline Fréchette, Line Gamache, Christian Quesnel & Danièle Vallé, Siris e Stanley Wany. Juntaram-se para fazer uma antologia de 160 páginas (a maior parte a preto e branco) para celebrar o encontro duas culturas nórdicas com a publicação de autores conhecidos como alguns emergentes. Graficamente os finlandeses atingem pontos altos das suas carreiras individuais: os onirismos de Amanda, Jenni e Pauliina valem logo pelo livro todo, Terhi e Mikko metamorfeiam-se, ela para um desenho do tipo Edward Gorey, ele para um inesperado "origami-comix" (afinal ser Designer não é assim tão mau como isso!). Os canadianos ficam-se por esquemas tradicionais gráficos sendo a Line Gamache quem se destaca pela dimensão política da sua bd, o resto parece ingénuo.
Em inglês ou francês e em finlandês mas sempre com traduções inglesas no fundo da página, as bd's foram feitas no isolamento térmico do atelier de cada autor, sem qualquer interacção entre os autores.

City Stories, vol.3 (Projecto City Stories; 2008)

Associado ao Festival BD de Łódz (na Polónia) esta antologia junta autores polacos e franceses em workshops em que a cidade de Łódz é trabalhada pelos vários prismas desses autores. O tema deste volume é a "reconstrução" que faz todo o sentido para quando se quer tratar de cidades. Haveria todas as razões para termos um projecto com interesse, no entanto o resultado é desastroso em quase todos os aspectos, sendo o pior o próprio objecto que reproduz as bd's duas vezes, uma vez em francês de um lado do livro, e em polaco do outro (pondo o livro de pernas para o ar e começando na contra-capa... ou seja, como se fosse um split). Se a maior parte das bd's são mediocres, quem ficar com este livro fica com a mediocridade em duplicado, estranhando-se quando se quer ser crítico e ecologista e acaba-se por cometer os mesmos erros daqueles a quem se crítica - não conhecer o sistema de legendas no fundo das páginas bd's, criado pelos finlandeses, só mostra que no projecto muita gente deve ter os olhos fechados para o que se passa pelo mundo. Destaco o desenhador Krzysztof Gawronkiewicz cujo grafismo parece um misto de Yellow Submarine e Dave Cooper.

Kugelblitz : MGMB vs NNH, vol.2 (Moga Mobo + Nou Nou Hau; 2005) 

É um catálogo trilingue que junta dois colectivos DIY, um alemão (Moga Mobo) e um japonês (Nou Nou Hau - que é uma brincadeira fonética para "No Know How") sub-intitulado "A look into German and Japanese Illustration and Comic underground" que é para marcar charme, porque apesar da euforia criativa dos dois colectivos ser energética e multi-direccionada ("toys", bd, ilustração, animação, performance, fotografia) os resultados são acessíveis, fáceis e até populares (um dos japoneses é conhecido pela série de animação Afro-Samurai), longe portanto da obscuridade. Podem ser autores independentes mas "underground" é só para abusar de uma palavra "hypesca". Os resultados do encontro na Internet acabou por se transformar numa admiração mútua e materializou-se em exposições em Berlim e Tóquio. Este catálogo mostra os trabalhos dos dois grupos, incluíndo os trabalhos feitos de propósito para as exposições e uma bd-cadáver-esquisito... Too Bright Für Mi!

todos estes títulos podem ser pedidos à Chili Com Carne via e-mail

Kramers Ergot




Não havia forma simpática de colocar as capas dos últimos números da antologia norte-americana Kramers Ergot - como aliás, não há formas simpáticas de arrumar estes monstruosos volumes nas prateleiras.
Mesmo que a bd esteja numa posição debilitada nos EUA - o que não é assim tão verdade seja como for, porque nos últimos anos tem entrado nos circuitos livreiros "normais", ou seja, para fora da loja especializada - esta terra será sempre a nação da bd e que me perdoem os belgas e japoneses. O Yellow Kid como marco do nascimento da bd é um disparate completo mas sem dúvida que marca a expansão da bd pelos EUA como um poderoso medium - até ao seu declínio popular a partir dos anos 50 com o aparecimento da TV. Mas apesar de tudo, talvez por causa da escala continental do país, tem sido lá que jorra uma fonte inesgotável de modelos: desde os "comic-books" dos anos 30 ao Comix dos anos 60, da Mad à Raw, passando pelos independentes dos anos 80 aos alternativos dos anos 90, da Kramers Ergot a...
Desde os anos 90 que apareceram montes de antologias como o Mutate & Survive (é um projecto próximo que serve de exemplo apenas) devedoras à segunda série da Raw. Talvez por isso que nos últimos 5 anos as antologias decidiram ultrapassar algumas fronteiras ou então porque muitos dos artistas precisam de "espaço", longe da "bd caderneta de cromos", ou seja, mais visual e mais experimental que formatos convencionais da bd norte-americana já não suportavam - é preciso não esquecer que o formato álbum nos EUA nunca foi vulgarizado como na Europa.
A Kramers Ergot aproxima-se mais de um conceito de livro de Arte ou do livro "coffe table", ou seja grande, expansiva e impressionante sendo um chamariz para os melhores dos melhores a participarem: Chris Ware, Jordan Crane, Marc Bell, Gabrielle Bell, o-mestre-o-mestre Gary Panter, Souther Salazar, Ron Rege Jr., Elvis Studio (presente no Salão Lisboa 2005 com a longa página Elvis Road), Tom Gauld, John Porcellino, Fabio Viscogliosi entre muitos outros menos conhecidos. Editado inicialmente pelo autor Sammy Harkham, a antologia actualmente é produzida pela Buenaventura Press sendo que os números anteriores ao seis encontram-se esgotados.
O número 7 já se tornou num "clássico" ainda antes de ter saído o ano passado quando foi anunciado que teria um formato superior a uma folha de jornal - ver a impressionante foto do livro e do seu editor aqui - com capa dura e uma "dream team" de participantes. Uma Lista? Aqui vai: Rick Altergott, Gabrielle Bell, os franceses Blanquet e Blex Bolex, o sul africano Conrad Botes (Bitter Comix), Mat Brinkman (do Fort Thunder), Ivan Brunetti, C.F., Daniel Clowes, Kim Deitch, Matt Furie, Tom Gauld, Matt Groening (criador dos Simpsons), Jaime Hernandez (Love & Rockets), Kevin Huizenga, Ben Katchor, o fantástico Anders Nilsen, o filandês Aapo Rapi, Ron Regé, Jr., Xavier Robel e Helge Reumann (Elvis Studio), a dupla francesa mais interessante do momento Ruppert & Mulot, Johnny Ryan, Richard Sala, Seth, Shoboshobo, Josh Simmons, a suiça Anna Sommer, Adrian Tomine, Chris Ware e mais um punhado de autores...
É o livro mais desagradável de pegar para ler e de guardar na estante. Mas é também um marco histórico - talvez só rivalizado por outro tijolo que foi o Comix 2000, editado pela francesa L'Association... Claro que os franceses e os norte-americanos nunca resolveram os seus problemas históricos (bedéfilos ou não) nem vão resolvê-los com a saída do K.E. - prevejo uma guerra intercontinental na bd. Ricos tempos!
PS - Claro, tinha-me esquecido... foi também nos EUA que foram criados os Super-Heróis - que são um género exclusivamente inventado na bd e em mais nenhum outro médium literário / narrativo. Como pude esquecer disso?

sábado, 5 de setembro de 2009

Sal n.3

v/a

Antologia sul-coreana de bd alternativa, por isso, fora das euforias industriais de "Mawha" (bd coreana quase que sucedânea do fenómeno Manga). As quase 300 páginas (em formato antologia Mutate & Survive e tantos outros títulos devedores à Raw) são repletas de bd's autobiográficas (ou de recorte auto-biográfico), legendadas no fundo da página em inglês. 

Ao contrário de um certo coimbrão (esta terra anda na ordem do dia, pelos vistos) que escreveu à pouco tempo no "Blitz dos reformados" (vulgo o Jornal de Letras), na autobiografia não se coloca as questões de o que é verdade na estória, o que o autor disfarça ou o que "realmente" mostra. A autobiografia na bd, introduzida por Harvey Pekar nos anos 70, é uma revolução estética que permitiu pela primeira na bd, os autores poderem incluir elementos pessoais nas suas estórias sem terem de se sujeitar a normas de género como acontecia antes - podia estar muito de Carl Barks nos "Tio Patinhas" ou de Hugo Pratt no "Corto Maltese" mas ainda assim estavam sujeitos a géneros "bedófilos" como a aventura ou humor ou a híbrida aventura humorística. As bd's nunca foram mais as mesmas, a "verdade" não é requisito para a Arte - com a «verdade me enganas» significa o quê? Mais, como humanos nem sabemos o que é a realidade - existe menos "realidade" para um "neocon"? Para um Protestante? Para um emigrante ilegal? Para um político português? Os políticos são humanos? 

Apesar de não morrer de emoção pela maioria das bd's desta antologia - por acaso as que gostei mais eram as não-autobiográficas como as 32 páginas de loucura "Bowie meets Marilyn Manson Space Oddity rmx" de Sa-Won Gong - há uma coisa que este livro consegue ter como um efeito positivo que é perceber o que se passa na cabeça do coreano e da coreana do século XXI - e imagino que fazer estas bd's na Coreia sejam mesmo uma revolução estética ou um acto contra-cultural. Não conseguindo perceber pelos nomes quem é um autor masculino ou um feminino, suspeito pelos desenvolvimentos das estórias qual o sexo de quem, e a nível formal os mais competentes serão Aram Song, Ancco, Namssi, Yong-deuk Kwon, Seong-hui Kim e Su-Bak Kim - a maioria serão mulheres (suponho) excepto Yong-Deuk e Su-Bak. Lembram-me quase todos as bd's de Adrian Tomine talvez pelos "slice-of-lifes" e pelo desenho.

Toxic-Shirt

Lucas Almeida, responsável e impressor do projecto das T-Shirts da CCC, foi-se para a Grande Maçã e só volta sabe lá Deus quando os Ianques fartarem-se dele... mas antes de partir deixou-nos cinco exemplares da T-shirt tóxica de João Chambel, nos formatos S, M, L e XL. Custa 18€ (13€ para sócios da CCC). Reservas via e-mail.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Honey talks : comics inspired by painted beehive panels

Stripcore; 2006 Como o subtítulo indica, são bd's inspiradas nas pinturas feitas em placas de colmeias. Por partes: 1) o colectivo esloveno Stripburger ataca outra vez com um projecto engraçado 2) mais uma vez faz uma colecção de livros que são colocados numa caixa (já tinham feito a brincadeira duas vezes com o Mini-Burger) 3) placas de colmeia pintadas são artesanato esloveno do século XVIII que durou até à 2ª Guerra Mundial, e que está a ser recuperado nos dias de hoje 4) foram selecionados 10 autores para fazerem bd partindo dessas pinturas (espólio do Museu da Apicultura) entre eles a grande Anke Feuchtenberger (a melhor do grupo sem dúvida), Matthias Lehman, Jakob Klemencic, Koco, Rutu Modan (do colectivo israelita Actus Tragicus) e Marcel Ruijters para mencionar os mais conhecidos - editados em Portugal pela Polvo, Chili Com Carne e Bedeteca de Lisboa. Os temas são na maioria baseado nos motivos dessas placas: temas seculares, caricatura de costumes, animais bizarros, cenas históricas, ... claro que tudo revisto à luz (fosca) da pós-modernidade. Ah! Esta ideia de pegar nas placas foi dada pelo Pakito Bolino (do Le Dernier Cri) não fosse ele um fã de Art Brut!!! Só é pena que a caixa ao sair da Eslovénia é inspecionada pelos correios e chegue toda lixada porque de resto é uma edição exemplar como o Stripcore nos tem habituado nas suas produções - e tal como testemunhado quem viu a exposição deste projecto que esteve patente na Bedeteca de Lisboa o ano passado.